O francês é uma língua românica com cerca de 200 milhões de falantes nativos no mundo. São 700 milhões se incluídos os que a falam como segunda língua ou como língua estrangeira. Além do mais, cerca de 200 milhões de pessoas aprendem francês como língua estrangeira, o que faz dela a segunda língua mais ensinada no mundo seguida do inglês. Há comunidades francófonas em 56 países e territórios.
Em um texto de grande relevância para a história dos estudos brasileiros – “O francês instrumento de desenvolvimento” –, Antônio Cândido de Mello e Souza (1977) distingue alguns traços que definem a grande influência da cultura francesa nos países da América Latina a partir de suas independências. Segundo o autor, esta cultura e sua língua tiveram, primeiramente, um papel de mediação entre as jovens nações e as demais culturas vigentes. Foi por intermédio das traduções francesas, por exemplo, que os brasileiros do século XIX leram autores clássicos da literatura mundial, como Goethe, Byron, Schiller, absorvendo tanto as interpretações feitas quanto as lacunas deixadas.
Tal mediação trouxe, como conseqüência, a paulatina substituição do estudo das culturas e línguas clássicas pelo estudo do francês, língua considerada “universal”. No início do século XIX, em que a França atingira seu apogeu de prestígio e de função civilizadora. Foi, portanto, por meio do francês – cujo ensino era obrigatório — que aprendemos a “ver o mundo, que adquirimos o senso da História, que lemos os clássicos de todos os países, inclusive gregos e romanos” (Cândido, 1977:12). O contato com a língua e a cultura francesa também nos permitiu adquirir uma maior humanidade nas questões sociais, uma vez que não apenas a elite dominadora delas se alimentava, mas também as classes dominadas buscavam sua inspiração nos ideais revolucionários franceses. Socialistas e anarquistas liam e se inspiravam na literatura francesa, “trocavam entre eles livros de Balzac e principalmente de Zola, considerado como um grande escritor humanitário; gostavam de evocar os “filósofos” do século XVIII (...), chegavam mesmo a dar aos filhos nomes como Germinal”. (Cândido, 1977:14).
Tal mediação trouxe, como conseqüência, a paulatina substituição do estudo das culturas e línguas clássicas pelo estudo do francês, língua considerada “universal”. No início do século XIX, em que a França atingira seu apogeu de prestígio e de função civilizadora. Foi, portanto, por meio do francês – cujo ensino era obrigatório — que aprendemos a “ver o mundo, que adquirimos o senso da História, que lemos os clássicos de todos os países, inclusive gregos e romanos” (Cândido, 1977:12). O contato com a língua e a cultura francesa também nos permitiu adquirir uma maior humanidade nas questões sociais, uma vez que não apenas a elite dominadora delas se alimentava, mas também as classes dominadas buscavam sua inspiração nos ideais revolucionários franceses. Socialistas e anarquistas liam e se inspiravam na literatura francesa, “trocavam entre eles livros de Balzac e principalmente de Zola, considerado como um grande escritor humanitário; gostavam de evocar os “filósofos” do século XVIII (...), chegavam mesmo a dar aos filhos nomes como Germinal”. (Cândido, 1977:14).
A LÍNGUA FRANCESA
E A GLOBALIZAÇÃO
E A GLOBALIZAÇÃO
por Carlos Leáñez Aristimuño*
encarregado da União Latina em Caracas (Venezuela)
encarregado da União Latina em Caracas (Venezuela)
Quem já pôde aprender mais de um idioma, terá percebido que as línguas não são meros códigos neutros e intercambiáveis, mas verdadeiras janelas que, conforme olhemos por uma ou por outra, mostram uma visão diferente do mundo e da vida. Assim, em algumas línguas, o passado não é o que ficou para trás, mas sim diante de nós, uma vez que já o vivemos e o temos defronte aos olhos; enquanto que o futuro, tempo do qual desconhecemos tudo, encontra-se às nossas costas, já que não podemos vê-lo (...) "Através da língua a sociedade penetra em nós, ao mesmo tempo em que nela penetramos graças à língua. A aquisição de uma língua estrangeira não é simplesmente um conhecimento a mais; freqüentemente nos leva a pensar com estruturas de outra coletividade humana, fazendo-nos aderir um pouco à estimativa de outros, a seus gostos e, quem sabe, hábitos", como diz, apropriadamente, García Pelayo. Não é de estranhar que cada idioma veicule o gênio de cada povo. Assim, encontramos em alemão profundidade e minúcias; em inglês, o sentido prático; em francês, clareza, refinamento. Todo este universo linguístico se mistura e se confunde, enriquecendo-se. (...) Hoje, este universo de rico intercâmbio foi torpedeado; as vias do intercâmbio tomam cada vez mais um único sentido, o coro de vozes poderia terminar num solo enfadonho, monocórdio, empobrecido e empobrecedor. É fascinante ver, por um lado, como as distâncias encurtam, as fronteiras desaparecem, o comércio se dinamiza e o que acontece do outro lado da terra nos atinge imediatamente. Sabemos que nossa nave é a Terra, e sua tripulação a humanidade inteira. Mas, por outro lado, quando gerentes de alto nível balbuciam um espanhol que mais parece uma paródia decalcada do inglês, quando nossos cientistas mostram-se incapazes de expressar seus conhecimentos em sua própria língua, quando recebo em meu próprio país bens e serviços em idioma estrangeiro ou acompanhados de manuais de instruções incompreensíveis, pergunto-me.... se, por causa da globalização, a humanidade deve passar pela homogeneização. Não, mil vezes não, mas... como fazer? Nenhum povo, nenhuma cultura, a menos que aspire trazer algo à humanidade, pode perder seus traços essenciais. Trata-se de enriquecer-se e enriquecer, estar no mundo a partir de sua própria casa, ou seja, a partir de sua língua. Ela deve então constituir um dos pontos centrais de nossas preocupações sobre o futuro.
O mundo de fala francesa, a francofonia, entendeu muito bem esta mensagem. Falado por 5,5% da humanidade em 47 países distribuídos por cinco continentes, língua oficial de 33 países e de quase todos os organismos internacionais, o francês é uma das grandes línguas de comunicação a nível mundial. Não obstante, em setores como o de grandes empresas, das finanças, pesquisa científica, redes informáticas e o mundo audiovisual, perdeu posições. A percepção do perigo que isto constitui para a existência da francofonia levou-o ao debate e à reação. Daí resultaram leis, instituições, políticas e, sobretudo, a consciência de que a língua é nossa casa no mundo. Desta maneira, a francophonie procura ativamente o ponto de intercâmbio mais adaptado à contemporaneidade: recebe de outros e a outros dá, existindo como um ente distinto.
O hispanismo, como um todo, deve também debater o tema e passar à ação. O estado do debate sobre a língua em nosso país parece limitado a mostrar um escasso vocabulário e a falta de domínio da gramática por parte de muitos falantes, o que sempre ocorreu e ocorre em muitas camadas de população em todos os idiomas e países. O problema fundamental é que nossa língua torna-se cada vez menos apta a dar acesso às áreas-chave de nosso tempo, levando-nos a aprender sistematicamente outra língua que o permita. Se esta tendência se mantiver, o espanhol desaparecerá da vida pública, circunscrevendo-se aos lares, ou terminará desaparecendo... e nós, enquanto povo, também.
Para evitar este fim, devemos pensar numa política pan-hispânica de fortalecimento de nosso idioma no mundo, preservando, por um lado, o direito dos hispanófonos de viver seu idioma dentro de seu país e, por outro lado, fazendo um gigantesco esforço para que a nossa seja uma língua capaz de englobar os fenômenos contemporâneos. Pensemos, então, num tratado pan-hispânico que inclua a obrigação de apresentar, em nossos países, bens e serviços em espanhol, tal como o fez o Quebec. Assim, ao mesmo tempo em que protegeremos um direito indiscutível de nossos falantes e garantimos um uso ótimo dos mencionados bens e serviços, daremos um impulso importante ao nosso idioma como língua internacional de comércio. Pensemos, igualmente, numa insistência constante da União Latina: a necessidade de uma política pan-hispânica de tradução sistemática, que nos permita gerar os neologismos imprescindíveis para apreender a contemporaneidade. O fato de que a cada ano, em inglês sejam gerados de 4 mil a 10 mil neologismos, dá uma idéia da importância do objetivo. A França, a Alemanha e o Japão são países que realizam esforços sistemáticos para reduzir a lacuna terminológica. Não seriam estes pontos verdadeiramente importantes para a Cúpula de Chefes de Estado Ibero-Americanos?
Creio que não encontramos ainda um ponto certo de intercâmbio com o mundo. Às vezes sinto que a falta de percepção de questões básicas faz com que muitos de nós embarquemos em um cruzeiro cuja primeira escala é o spanglish, a segunda Porto Rico, e a terceira tornar-se mais uma estrela, agora falando inglês, da bandeira americana. Outras vezes ouço vozes que, temerosas do mundo, gostariam de fechar-nos num terreno de gastronomia local, ritos crioulos e expressões vernáculas. Penso então no De Gaulle como figura, no Quebec como povo, no mundo de língua francesa, nessa francophonie e vejo nela, juntamente com uma abertura aos outros, num afã de serem diferentes, com fortes brios individualistas, uma vontade de independência salutar, um orgulho tranqüilo pela herança de sua história e, antes de mais nada, de sua língua. Estes gestos são particularmente pertinentes neste fim de século, tendo em vista o rico intercâmbio e a evolução que a globalização proporcionará aos povos que saibam preservar a sua essência; para os que não saibam fazê-lo, será implacavelmente arrasadora.
O mundo de fala francesa, a francofonia, entendeu muito bem esta mensagem. Falado por 5,5% da humanidade em 47 países distribuídos por cinco continentes, língua oficial de 33 países e de quase todos os organismos internacionais, o francês é uma das grandes línguas de comunicação a nível mundial. Não obstante, em setores como o de grandes empresas, das finanças, pesquisa científica, redes informáticas e o mundo audiovisual, perdeu posições. A percepção do perigo que isto constitui para a existência da francofonia levou-o ao debate e à reação. Daí resultaram leis, instituições, políticas e, sobretudo, a consciência de que a língua é nossa casa no mundo. Desta maneira, a francophonie procura ativamente o ponto de intercâmbio mais adaptado à contemporaneidade: recebe de outros e a outros dá, existindo como um ente distinto.
O hispanismo, como um todo, deve também debater o tema e passar à ação. O estado do debate sobre a língua em nosso país parece limitado a mostrar um escasso vocabulário e a falta de domínio da gramática por parte de muitos falantes, o que sempre ocorreu e ocorre em muitas camadas de população em todos os idiomas e países. O problema fundamental é que nossa língua torna-se cada vez menos apta a dar acesso às áreas-chave de nosso tempo, levando-nos a aprender sistematicamente outra língua que o permita. Se esta tendência se mantiver, o espanhol desaparecerá da vida pública, circunscrevendo-se aos lares, ou terminará desaparecendo... e nós, enquanto povo, também.
Para evitar este fim, devemos pensar numa política pan-hispânica de fortalecimento de nosso idioma no mundo, preservando, por um lado, o direito dos hispanófonos de viver seu idioma dentro de seu país e, por outro lado, fazendo um gigantesco esforço para que a nossa seja uma língua capaz de englobar os fenômenos contemporâneos. Pensemos, então, num tratado pan-hispânico que inclua a obrigação de apresentar, em nossos países, bens e serviços em espanhol, tal como o fez o Quebec. Assim, ao mesmo tempo em que protegeremos um direito indiscutível de nossos falantes e garantimos um uso ótimo dos mencionados bens e serviços, daremos um impulso importante ao nosso idioma como língua internacional de comércio. Pensemos, igualmente, numa insistência constante da União Latina: a necessidade de uma política pan-hispânica de tradução sistemática, que nos permita gerar os neologismos imprescindíveis para apreender a contemporaneidade. O fato de que a cada ano, em inglês sejam gerados de 4 mil a 10 mil neologismos, dá uma idéia da importância do objetivo. A França, a Alemanha e o Japão são países que realizam esforços sistemáticos para reduzir a lacuna terminológica. Não seriam estes pontos verdadeiramente importantes para a Cúpula de Chefes de Estado Ibero-Americanos?
Creio que não encontramos ainda um ponto certo de intercâmbio com o mundo. Às vezes sinto que a falta de percepção de questões básicas faz com que muitos de nós embarquemos em um cruzeiro cuja primeira escala é o spanglish, a segunda Porto Rico, e a terceira tornar-se mais uma estrela, agora falando inglês, da bandeira americana. Outras vezes ouço vozes que, temerosas do mundo, gostariam de fechar-nos num terreno de gastronomia local, ritos crioulos e expressões vernáculas. Penso então no De Gaulle como figura, no Quebec como povo, no mundo de língua francesa, nessa francophonie e vejo nela, juntamente com uma abertura aos outros, num afã de serem diferentes, com fortes brios individualistas, uma vontade de independência salutar, um orgulho tranqüilo pela herança de sua história e, antes de mais nada, de sua língua. Estes gestos são particularmente pertinentes neste fim de século, tendo em vista o rico intercâmbio e a evolução que a globalização proporcionará aos povos que saibam preservar a sua essência; para os que não saibam fazê-lo, será implacavelmente arrasadora.
Leia mais em https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_francesa
comentários em idioma estrangeiro serão automaticamente excluidos. Se tiver alguma dúvida sobre o anúncio, comente e eu responderei o mais rápido possível.